quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Classes sociais e luta da classes nas novelas do oeste

Uma das marcas evidentes do franquismo nas novelas do oeste que nos chegaram tem a ver com a quase ausência de luta de classes inserida nas descrições da mesma. Com efeito, não convinha ao estado totalitário um tratamento nesses moldes e as consequências de uma ultrapassagem desse limite poderiam significar a prisão do autor mesmo escondido sob pseudónimo.
No entanto, o palco destas lutas violentas descritas era fértil em contradições sociais. Os estados do Norte eram fortemente industrializados com uma produção textil e um operariado significativos. Os estados do sul tinham grandes plantações florescentes graças à exploração de trabalho escravo.




Estas contradições foram entretanto ultrapassadas historicamente pelas contradições entre os estados do norte, que queriam mais mão-de-obra livre do tal duplo ponto de vista (livres de grilhetas e livres de meios de produção), e os estados do sul que pretendiam a manutenção do seu modo de produção. Esta contradição foi resolvida pela Guerra da Secessão que culminou na abolição da escravatura.

A juntar-se a estas clivagens sociais há ainda que considerar a contradição entre a população autóctone e os pioneiros a qual, essa sim, foi muitas vezes, objecto de descrições embora de uma forma apologética sempre a idolatrar a superioridade dos invasores.
Nas novelas, é raro detectarmos a contradição entre os vaqueiros e o dono do rancho. O elemento central das mesmas, quase sempre o pistoleiro, é um individualista que procura salvar a pele. O Estado, como agente de domínio de uma classe sobre outra, é ainda bastante tímido e a figura do xerife tem em geral o palpel de impôr uma ordem que do ponto de vista social ainda é extremamente indefinida.
Estas limitações fazem da novela do oeste um texto extremamente deformador do leitor efeito amplificado pela quantidade e frequência associadas à sua produção.

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